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O que é uma femme fatale? | Non hilum

Quando estamos envolvidos em uma história é muito comum alguns personagens apresentarem um arquétipo, que nada mais é do que um padrão que representa a personalidade de um personagem.


Os arquétipos mais populares são do herói, que geralmente é o protagonista, o mentor, que é basicamente ajuda o protagonista e o vilão, que se opõe ao protagonista. E esses arquétipos são constantemente utilizados até hoje na criação de histórias para livros, filmes, séries e afins.


Um arquétipo muito marcante que ultrapassou séculos de cultura e perdura até hoje, seja na literatura ou no audiovisual é o da Mulher Fatal, ou Femme Fatale.



Os primórdios


Esse arquétipo é muito mais antigo do que imaginamos, podemos indicar que as primeiras mulheres fatais que se têm registro foram nas histórias e mitos da Grécia Antiga, como por exemplo a Odisseia, onde temos Circe, feiticeira que transforma homens em porcos após serem atraídos por ela.


Com o tempo, várias culturas desenvolveram figuras femininas fatais nos mais diversos cantos do mundo. Como, por exemplo, a deusa Kali do hinduísmo, Lilith do judaísmo e até mesmo Dalila do cristianismo. Apesar de fortes características com esse arquétipo, o termo ainda não existia.


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A Feiticeira Circe - Pintura de Giovanni Benedetto Castiglione

A mulher fatal na literatura francesa


O termo e as primeiras idealizações de mulher fatal, como conhecemos, deram partida no começo do século XIX, na Europa.


O escritor francês Charles Nodier (1780-1844) publicou um livro chamado “SMARRA ou les démons de la nuit” (Smarra ou os demônios da noite), onde conta a história de um rapaz recém-casado que sonha ser outra pessoa em um período muito distante. Nesse sonho, existe a figura de uma mulher, que é uma feiticeira chamada Méroé, personificação da morte e destruição e líder dos demônios, incluindo Smarra. Apesar de tudo que a mulher representa, o protagonista se vê atraído por ela, já que é tão bela quanto maligna.



Theda Bara e o arquétipo vamp


Finalmente, chegamos ao século XX, no começo do cinema, quando os filmes ainda eram compostos só por imagens, sem falas.


O arquétipo que antecedeu a femme fatale no cinema ficou conhecido como vamp, abreviação de “vampira”, que também são mulheres sedutoras e que têm como propósito a ruína do protagonista. Mas a diferença entre os dois arquétipos é que as vamps são mais sádicas, cruéis e assimiladas ao ato de sugar a energia do protagonista como uma vampira de fato.


O filme que popularizou o termo vamp foi “Escravos de uma Paixão” (1915), isso porque a história, baseada no poema “The Vampire” de Rudyard Kipling, retrata um homem que se apaixona por uma mulher, oferecendo tudo de si, porém a mulher é indiferente aos seus esforços.


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Theda Bara em "Cleópatra" (1917)

A mulher que deu vida à vampira foi a atriz Theda Bara (1885-1955), até hoje um ícone do cinema mudo e conhecida por papéis onde interpretava mulheres sensuais e misteriosas. Não apenas interpretava, mas vivia o arquétipo fora das telas, imagem construída pela Fox.



A primeira Femme Fatale do cinema


A mulher fatal se popularizou em 1940 com a chegada do gênero Noir (preto ou escuro em francês), filmes que envolvem histórias de crimes, suspense e corrupção, além de personagens complexos e ambíguos.


A primeira personagem, que possui título oficial de femme fatale do cinema, foi Brigid O'Shaughnessy, personagem do filme “O Falcão Maltês” (1941), interpretada por Mary Astor (1906-1987).


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Mary Astor como Brigid em "O Falcão Maltês" (1941)

A trama gira em torno de um detetive particular chamado Sam Spade, que foi contratado por Brigid para investigar um homem suspeito de ter raptado sua irmã. No decorrer do filme, descobre-se que Brigid e outros personagens estavam atrás de uma estatueta de alto valor.


Nesse filme, Brigid se apresenta inicialmente como uma vítima preocupada com sua irmã, porém aos poucos vai se mostrando uma figura suspeita e manipuladora, para no fim descobrir que ela estava apenas usando Spade para atingir seu maior objetivo.



Características


No decorrer da história, esse arquétipo tão intrigante passou por várias transformações, atravessando gerações.


Elas são conhecidas por serem mulheres sedutoras, manipuladoras, ótimas estrategistas, inteligentes e misteriosas. Geralmente, são “responsáveis” pela ruína do protagonista, atraindo o mesmo com seu charme rumo à armadilhas.


Femme fatales também são conhecidas por serem moralmente ambíguas e complexas. Nem sempre elas são más, porém também não são 100% boas, sendo até mesmo consideradas um tipo de “anti-heroína”. Tudo depende da sua motivação (acredito que, por isso, elas são tão memoráveis).


O padrão de vestimentas são o famoso par de saltos agulha, os vestidos colados com decote (e uma fenda na perna pra dar charme) e o batom, majoritariamente, vermelho. Algumas situações, se usam acessórios adicionais como luvas até os cotovelos, meia calça e um sobretudo pra dar aquele toque de mistério.


Apesar de serem personagens populares entre as décadas de 1940 e 1950, algumas personagens atuais se trajam desse arquétipo, ainda que se forma sutil ao público. Irei citar três delas a seguir.


  1. Mulher Gato

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Zoë Kravitz como Mulher Gato em "Batman" (2022)

A Mulher Gato, de longe, é uma das primeiras personagens que vêm à cabeça quando se trata de mulheres fatais.


Selina Kyle apresenta todas as principais características do arquétipo: uma mulher inteligente, sensual e misteriosa. Além de habilidades como disfarce e artes marciais.



  1. Jane Smith

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Angelina Jolie como Jane Smith em "Sr. & Sra. Smith" (2005)

Jane também se adequa muito bem ao que chamamos de mulher fatal. Ela é a famosa ovelha em pele de cordeiro: rosto angelical e doce, mas habilidades implacáveis e mortais.


Matadora de aluguel super ágil, sedutora e astuta. Como uma agente que presta serviços obscuros, vive uma vida dupla para esconder seu verdadeiro trabalho dos vizinhos e de seu marido, John.



  1. Beatrix Kiddo

Uma Thurman como Beatrix em "Kill Bill" (2003)>o que é uma femme fatale
Uma Thurman como Beatrix em "Kill Bill" (2003)

 Não posso deixar de mencionar uma das maiores femme fatales da atualidade, Beatrix Kiddo, de um dos maiores filmes de Quentin Tarantino, "Kill Bill" (2003).

 

  Beatrix tem como motivação a vingança, possui habilidades de artes marciais e luta com espada. Além dessas habilidades, é uma mulher descrita como muito bonita e manipuladora para conseguir os meios necessários para concluir sua vingança.



Esse arquétipo, ainda hoje, é muito interessante de explorar. Cada femme fatale criada até os dias atuais possuem as mais diversas motivações e personalidades. E apesar de serem mais presentes em filmes de máfia, policiais ou de espionagem, é um arquétipo que pode ser inserido em gêneros como fantasia, terror, entre outros.

Basta o roteirista ou escritor aflorar sua criatividade e desenvolver uma personagem enigmática, com diversas camadas e que cative o público.

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