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A História das Imagens em Movimento


Hoje em dia, o vídeo faz parte da nossa rotina, já que é possível realizar uma gravação pela câmera embutida no celular. Se tornou banal registrar vídeos de viagens, de momentos com a família e shows, mas pouco se pensa sobre a trajetória que levou até a câmera móvel.


Na história do cinema, sempre destacamos os irmãos Lumière como os pais do cinema por seu invento revolucionário. Mas, para que eles pudessem chegar até onde chegaram, foram necessários vários experimentos de inventores que possuíam o mesmo objetivo: capturar imagens. Então, hoje iremos mergulhar na história e evolução dos movimentos antes dos Lumiére.


Lembrando que a história dos movimentos não se limita apenas ao processo de criação e evolução de câmeras, mas também de técnicas envolvendo pinturas e até mesmo o teatro.



A Câmara Escura como base


Esse é o dispositivo que serviu de base para todos os dispositivos que viriam a surgir, inclusive as câmeras atuais.


A primeiríssima versão da câmara escura existe há mais de 2000 anos, a origem do país é incerta, porém o mecanismo de projeção foi estudado na China, na Grécia e até na Arábia.


Representação da Câmara Obscura - Reprodução: Wikimedia
Representação da Câmara Obscura - Reprodução: Wikimedia

Sua estrutura é de uma caixa de madeira com um orifício nela que permite a passagem de luz, assim projetando a imagem, de forma invertida, de fora para dentro da caixa.



A primeira invenção


A história dos movimentos começa com um experimento baseado nas lanternas mágicas chinesas, o dispositivo chamado Epidiascópio, criado pelo inventor holandês Christiaan Huygens.


A estrutura de sua invenção é uma câmara escura e, em seu interior, uma vela que, por meio do condensador, atravessava uma placa de vidro pintada, refletindo a imagem. O compartimento da placa de vidro permitia que deslizasse para o lado, criando a ilusão de movimento.


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Interior do Epidiascópio

Apesar de não haver data definitiva desta invenção, ela foi atribuída a Huygens e batizada como "Lanterna Mágica" em 1659.


No século XVIII, shows de sombras se tornaram espetáculos cada vez mais populares. E diversos inventores passaram a estudar e experimentar formas de aprimorar a invenção de Huygens.



Eidophusikon


Essa técnica foi desenvolvida pelo pintor e cenógrafo teatral francês Philip James de Loutherbourg em 1781, que consiste basicamente em um cenário mecânico.


Eidophusikon -  Philip James
Eidophusikon - Philip James

De acordo com a historiadora de arte americana, Ann Bermingham, a etimologia da palavra vem da junção de três palavras em grego: eidoion (‘fantasma’, ‘imagem’ ou ‘aparição’) combinado com phusis (‘natureza’ ou ‘aparência natural’) e eikon (‘imagem’ ou ‘semelhança’).


Teve sua primeira apresentação na Leicester Square, Londres, sua obra tinha como principal característica reproduzir fenômenos naturais como nascer e pôr do sol, tempestades, etc. O segredo para funcionar? Espelhos e polias que movimentavam os elementos componentes do cenário.



Panorama


A técnica do Panorama é mais antiga do que pensamos. Ela chegou em 1787 através do pintor irlandês Robert Barker.


Antes de se tornar uma técnica de movimentação de câmera, o panorama, ou ciclorama, era um local circular com pinturas de paisagens de larga escala, especificamente de 180º ou 360º, que permitia às pessoas entrarem e estarem imersas na obra.


Panorama de Robert Baker
Panorama de Robert Baker

A etimologia vem da junção de pan (tudo) e orama (visão), termo desenvolvido pelo próprio Barker. O artista solicitou a patente no mesmo ano, porém apenas em 1796 ela foi concedida.



Fantasmagoria

  Uma das adaptações da Lanterna Mágica foi realizada na década de 1790 por Étienne-Gaspard Robert, ilusionista belga.


Após a Lanterna Mágica se popularizar, passou a ser usada para propósitos didáticos, especialmente pela igreja, que projetava imagens de demônios para aterrorizar os fiéis. Étienne seguiu a mesma linha, porém com uma variedade de seres sobrenaturais, incluindo esqueletos, bruxas e fantasmas, daí o nome Fantasmagoria.


A adaptação feita por Robert consistia na adição de lâminas atrás da lente óptica e de um diafragma ajustado por um par de cordas, onde a abertura é aumentada ou diminuída conforme desejado para controlar a quantidade de luz que passa.


Com esses ajustes, mais a inserção de rodas no dispositivo, permitiu que Étienne movesse o dispositivo e ajustasse a transparência das imagens, causando o efeito fantasmagórico dos desenhos.


Fantasmagoria de Étienne Gaspar Robert
Fantasmagoria de Étienne Gaspar Robert


Diorama


Louis Jacques Mandé Daguerre, pintor francês, em parceria com outro pintor, Charles-Marie Bouton, desenvolveram o Diorama nos primeiros anos de 1820.


Essa técnica se formou a partir de jogos de luz e uma grande tela pintada dos dois lados, onde, quando a iluminação vinha de um lado, aparecia uma imagem; quando a iluminação partia do outro lado, outra imagem aparecia, normalmente eram representados dia e noite.


Estruturação do Diorama de Daguerre
Estruturação do Diorama de Daguerre

A palavra Diorama vem da junção das palavras gregas di (através) e orama (aquilo que é visto, uma cena), sendo assim: visão através de algo. Com o passar do tempo, o Diorama passou a ser definido como um pequeno cenário tridimensional.



Taumatrópio


O Taumatropo foi outro brinquedo, muito famoso na Era Vitoriana e que também teve a sua contribuição na ilusão de óptica e movimento.


A peça foi inventada pelo médico britânico Peter Mark Roget em 1824 para explicar como funcionava a teroia da persistência da visão.


Exemplificação do Taumatropo
Exemplificação do Taumatropo

Essa criação é composta por dois círculo com desenhos diferentes de cada lado, onde um está invertido, e duas linhas presas ao círculo. Quando girar, cria a ilusão de complemento.



Heliografia e a primeira fotografia


Um feito muito significativo para a desenvoltura da captura de movimentos e para a fotografia, foi o experimento do inventor (também) francês, Joseph Nicéphore Niépce.


A primeira fotografia da história foi realizada em 1826, através de um processo inventado pelo próprio Niépce que se chama Heliografia, que significa "escrita do sol".


"Vista da Janela em Le Gras" por Joseph Nicéphore Niépce
"Vista da Janela em Le Gras" por Joseph Nicéphore Niépce

O processo foi feito a partir da cobertura de uma placa de estanho com betume da judéia, tipo de asfalto natural, posto dentro de uma câmara escura, que possui um buraco para a passagem de luz. Joseph deixou a placa de estanho na câmara escura por cerca de 8 horas até obter o resultado.


Como a fixação acontecia? Bom, a luz solar que entrava endurecia o betume, porém haviam partes que o sol não alcançava, então partes da pasta ainda ficavam inconsistente. Para revelar a imagem, se passava um solvente para tirar o que sobrava, assim a imagem ficava grudada na placa de estanho.



Fenacistoscópio


Esse dispositivo veio a partir de estudos do físico belga Joseph Plateau e do matemático Simon Stampfer no ano de 1833.


Eles desenvolveram um disco que continha desenhos da mesma figura em posições diferentes, assim quando o disco, apoiado por uma base no centro e refletido por um espelho, girasse, iria gerar a ilusão de movimento.


Fenacistoscópio - Reprodução da University of Edinburgh
Fenacistoscópio - Reprodução da University of Edinburgh

O principal objetivo era demonstrar a teoria de Plateau sobre a persistência na retina, que era: quanto tempo a fixação de uma imagem permanece na nossa percepção e como essa persistência permitia que uma sequência de imagens separadas fosse vista como uma imagem em movimento.


Por causa deste experimento, foi descoberto que a melhor quantia de imagens para gerar a ilusão de movimento é de 16 fotogramas.



Zootrópio


Foi uma das primeiras melhorias do Fenacistoscópio, criado pelo matemático britânico, William George Horner, em 1834.


A etimologia do nome é a junção das palavras gregas zoe ("vida") e tropus ("giro" ou "roda"), ou seja, roda da vida.


O zootrópio era um brinquedo de forma cilíndrica com fendas nas laterais e, dentro do dispositivo, tem uma tira de imagens em sequência. As imagens são exibidas pela fenda e, quando gira o cilindro, as imagens parecem se mover.


Cartaz publicitário do zootrópio - Reprodução de Flickr
Cartaz publicitário do zootrópio - Reprodução de Flickr

O zootrópio, apesar de não ter como principal fim o desenvolvimento do audiovisual, ele veio a se tornar uma das bases da animação, mostrado como imagens imóveis poderiam criar a ilusão de movimento.



Daguerreótipo


O Daguerreótipo foi resultado de uma parceria conturbada entre os inventores Louis Daguerre e Joseph Nicéphore Niépce, pois, após o falecimento de Joseph, seu filho, Isidore deu continuação à parceria, mas como era pouco entendedor, Daguerre teria se aproveitado disso para se apropriar das invenções de Joseph na surdina.


O processo de criação desse dispositivo foi iniciado em 1835, com Daguerre obtendo imagens positivas (reproduzindo tons da imagem como é na vida real) e em menor tempo do que a heliografia. Em 1837, Daguerre conseguiu melhorar a nitidez da imagem. E, em 1839, a invenção foi à público.


Daguérreotipo - Reprodução: Picryl
Daguérreotipo - Reprodução: Picryl

Para obtermos uma imagem com o Daguerreótipo, é realizado um processo semelhante a heliografia, porém com algumas diferenças.


Era usada uma placa de cobre polida e revestida em prata, em seguida a placa era sensibilizada por exposição de vapores de iodo dentro de uma câmara escura, formando uma camada de iodeto de prata, e era deixada lá dentro por alguns minutos.


A revelação da imagem acontecia com a exposição a vapores de mercúrio aquecido, reagindo à prata exposta á luz, formando uma mistura de mercúrio e prata. A fixação da imagem ocorre após passar tiossulfato de sódio, removendo o iodeto de prata.



Fasmatropo


Durante minhas pesquisas, descobri um outro dispositivo que me chamou a atenção por sua história e registros escassos.


O Fasmatropo foi mostrado publicamente em 1870 pelo inventor estadunidense Henry Renno Heyl, porém sem fins comerciais.


Notícia sobre o Fasmatropo - Reprodução: Philadelphia Inquirer/Newspapers.com
Notícia sobre o Fasmatropo - Reprodução: Philadelphia Inquirer/Newspapers.com

O fasmatrope era composto por um disco de engrenagens carregado com lâminas de vidro em sequencia. Quando girado na frente de um projetor de lanterna, ele podia projetar uma imagem em movimento em uma tela. O dispositivo também possuía uma manivela para que o ritmo pudesse ser controlado.


A revista The Public Ledger informou que a invenção de Heyl não foi patenteada por ele, o que pode ter contribuído para que seu nome caísse no esquecimento.



Praxinoscópio


Enquanto o Zootrópio é uma evolução do Fenascitoscópio, o Praxinoscópio foi uma versão melhorada do Zootrópio.


Esse mecanismo foi criado pelo inventor francês Charles-Émile Reynaud em 1877, e batizado com a junnção das palavras gregas praxis (ação), noso (relativo) e scopos (observador), formando o que seria "observar a ação".


O praxinoscópio era constituído por espelhos que ficavam no centro do círculo, refletindo tiras de images que rodeavam a parede interna. Assi, quando girasse o círculo, ou tambor, o reflexo do espelho gerava imagensmais fluidas do que o zootrópio.



Praxinoscópio - Reprodução: Praxinoscópio de Émile Reynaud para La Nature, uma revista científica
Praxinoscópio - Reprodução: Praxinoscópio de Émile Reynaud para La Nature, uma revista científica

O inventor aprimorou a obra e batizou a nova versão de "Théâtre Optique" (Teatro Óptico, no português) em 1888. O Théâtre Optique permitia projeções mais longas do que o Praxinoscópio e logo, Reynaud realizou pequenas apresentações ao público.



Os Experimentos de Muybridge


Experimento de Muybridge - Reprodução: Welcome Collection
Experimento de Muybridge - Reprodução: Welcome Collection

O Experimento de Muybridge é um dos mais famosos quando falamos da origem dos movimentos no cinema.


Eadweard Muybridge, fotógrafo inglês, realizou um expetimento em 1878, que surgiu a partir de uma aposta com seu amigo Leland Stanford. A aposta consistia em descobrir se as quatro patas do cavalo ficavam no ar durante o galope.


Com a ajuda de 12 câmeras alinhadas em fileira e um dispositivo de disparo elétrico ele realizou cerca de 20 fotografias.


Para mostrar o cavalo em movimento, utilizou a sua invenção, o zoopraxiscópio, para reproduzir as imagens.



Fuzil Fotográfico e o Cronofotografia


O inventor francês Étienne-Jules Marey, inspirado pelo fotógrafo Eadweard Muybridge, decidiu se dedicar a capturar movimentos e em 1882 desenvolveu o Fuzil Fotográfico e com ele uma nova técnica de fazer fotos.


Fuzil Fotográfico - Étienne-Jules Marey
Fuzil Fotográfico - Étienne-Jules Marey

O dispositivo funcionava como uma arma, porém possuía um tambor com uma chapa fotográfica. E na mesma chapa, era possível tirar 12 fotos por segundo, ou seja todos os frames eram registrados na mesma imagem.


Em pouco tempo, projetou uma câmera mais potente, com uma placa de vidro, que ajudaram a tirar fotos nítidas e precisas. Em uma dessas imagens, foi registrado contornos, representando movimento. Assim nasceu o método "cronofotográfico".


Cronofotogrgafia de Marey
Cronofotogrgafia de Marey


A primeira filmadora


A câmera que revolucionou o movimento e se tornou a base da câmera filmadora moderna foi criada por Louis Aimé Augustin Le Prince, em 1888.


De início, Le Prince haia criado uma câmera com 16 lentes, em 1886, que veio a ser patenteada, porém devido a falta de um método que funcionasse para projetar as imagens capturadas. Então, dimiuiu a quantidade de lentes na criação seguinte.


Câmera de lente única - Science Museum Group. Single-lens Cine Camera by Louis Le Prince.
Câmera de lente única - Science Museum Group. Single-lens Cine Camera by Louis Le Prince.

A câmera possuía uma única lente de captura e utilizava filme de papel perfurado. Além de um obturador mecânico que abria e fechava para controlar a passagem de luz e criar o efeito de movimento.


Antes que pudesse mostrar sua invenção ao mundo, Le Prince desapareceu de forma misteriosa em setembro de 1890. Sendo visto pela última vez em uma estação de trem com sua câmera a caminho de uma reunião com Ferdinand Mobisson, secretário da Ópera Garnier em Paris.



Câmera com rolo de celuloide


A Kodak foi uma das marcas de câmera mais lembradas até 2012. Fundada por George Eastman, empresário estadunidense, em 1888, foi a primeira empresa a desenvolver uma câmera com filme de celuloide.


Celuloide

Apesar da Kodak ter popularizado o filme deste material, a patente pertence a outro inventor estadunidense Hannibal Goodwin.


Celulóide é um material feito de um tipo de plástico semi-sintético flexível que permitia se tornar um rolo.


Câmera da Kodak

O dispositivo se tornou febre por disponibilizar ess mecanismo de forma acessível, além do dispositivo ser portátil, vinha pré-carregada com filme para 100 fotos.


Publicidade da nova câmera da Kodak de 1888
Publicidade da nova câmera da Kodak de 1888

Além dessa democratização da fotografia, a pessoa poderia mandar a câmera para a empresa revelar ad fotos e de brinde, a câmera voltava com um rolo de filme novo para uso.



Cinetoscópio


Esse projeto, também envolve certo apagamento histórico e uma pessoa muito conhecida no ramo das invenções, o empresário estadunidense: Thomas Alva Edison.


Registros apontam que em 1887 Thomas Edison já teria conseguido capturar movimentos com uma criação de sua autoria (uhum, sei), mas por não acreditar que traria lucros, acabou abandonando a invenção.


Porém, em 1889, decidiu retornar ao projeto e designou ao seu assistente William Kennedy-Laurie Dickson para continuar com pesquisas, que deram resultados positivos.


Homem assistindo pelo Cinetoscópio
Homem assistindo pelo Cinetoscópio

A invenção foi batizada de Cinetoscópio ("Kinetoscope" em inglês), sua estrutura era de uma grande câmara obscura, uma manivela que permitia o controle do ritmo em que os frames passavam, um obturador e uma tira de celuloide de 35mm perfurada.


Sua primeira demonstraçaõ ao público acoteceu em 22 de maio de 1891 no laboratório da empresa de Edison. Enquanto a demonstração comercial ocorreu em março de 1894.


Ah, o apagamento histórico? Um dia, não tão belo, houve uma discussão entre Edison e Dickson que resultou na demissão do assistente. A partir disso, Edison passou a excluir o ex empregado de qualquer participação no projeto (sacana).



Eu sei, eu sei, foi muita coisa, mas acreditem, deixei vários outros projetos e técnicas de fora, porque muitas informações são escassas ou datas são confusas.


Falar sobre história do cinema envolve conteúdo super denso e aprofundado, porque como pudemos ver, muitos séculos de pesquisa foram feitos, muitos inventores de vários países participaram e várias brigas por patentes aconteceram.


Tem algum tema que quer ver aqui? Comenta!



Fontes:


SABADIN, Celso. A História do Cinema para quem tem pressa

SABADIN, Celso. Vocês ainda não ouviram nada: A barulhenta história do cinema mudo


1 comentário

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Aoba
06 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Ótimo artigo

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Introdução
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